Anatomia dos Mártires
João TordoUm jornalista português insensato e ambicioso quer provar para seu
editor – um comunista irascível, alcoólico e com bastante desprezo pelos
jovens – que não é só mais um na redação. Escolhido para ir a Berlim
entrevistar o biógrafo de um mártir religioso, aproveita a deixa para
fazer, em seu artigo, uma analogia com a história de Catarina Eufémia, a
camponesa que se tornou um ícone do Partido Comunista, mas de quem, na
verdade, pouco ou nada sabe. Quando, porém, o artigo é publicado, as
reações de indignação por parte dos leitores não se fazem esperar,
algumas das quais bastante ameaçadoras; e, na noite em que o editor é
encontrado na rua em coma, aparentemente brutalizado, o jornalista se
pergunta se não foi por defender publicamente seu artigo e começa
suspeitando de que existe muito mais em jogo do que a simples memória de
uma camponesa assassinada durante a ditadura. É então que decide
investigar obsessivamente a vida de Catarina, desbravando por entre o
nevoeiro que paira sobre os mártires e os transforma em mitos de que
sempre alguém se apodera. E encontra realidades bem distintas – e mais
tenebrosas – do que podia esperar.